É tudo ferro.
Cortam as estradas,
e superam as nuvens
nessa imensa máquina que surgiu.
Não há mais terra,
não há mais cor.
É tudo ferro.
As garras gananciosas de um monstro
surgem a renovar a maquinaria,
vendem o ópio de cada dia,
sufocam garganta e sonho.
Não há mais pão,
nem mesmo água.
É tudo ferro.
Revolvem a terra
à procura de algo que não mais existe.
Mas a garra do monstro insiste,
só encontra uma figura cadavérica.
Não há mais homem,
nem há fé.
É tudo ferro.
Envolto em esmagadora máquina,
ainda assim, substituível
pelo próximo peão
que sua morte, ansioso espera
Não há mais flor,
tampouco amor.
É tudo ferro.
Volta para a casa,
já não a chama de lar,
conta o soldo do dia.
Mais parece um condenado.
Não há mais esperança,
nunca houve paz.
É tudo ferro.
Brada então,
quer se libertar.
Da guarita, o capitão
não lhe pode escutar.
Não há mais luta,
não há mais tempo.
É tudo ferro,
é tudo ferro.
É tudo ferro.
É tudo ferro.
Leonardo Dias de Paula é internacionalista por formação e revisor por profissão. Nas horas vagas finge ser músico e escritor. Espera que amar e mudar as coisas continuem a nos interessar mais.